Novo uso para as Bancas de Jornal

Localizadas em pontos estratégicos e bem movimentados da cidade e vendendo desde artesanato até café, as bancas de jornal ganharam uma nova roupagem nos últimos anos. Ao pesquisar a legislação e entender como se adequar, pequenos empresários encontraram nesse formato a materialização de uma loja física. De portas abertas em um dos endereços mais cobiçados de São Paulo (Rua Mateus Grou em Pinheiros), a MyBoo é o negócio de Monica Oliveira. O fechamento de editoras especializadas em moda e o fim de muitas revistas a fez repensar sua profissão e embarcar na criação da MyBoo, marca de acessórios para pets que nasceu no digital, mas em 2019 se lançou como loja física em uma antiga banca de jornal. "Não queria quiosques em shoppings nem loja grande de rua. Queria uma loja conceitual para continuar apoiando o mercado editorial. Imagina andar no seu bairro com o pet, fazer suas compras e ainda passar na banca e comprar algo para o seu animal?", diz Monica Oliveira. São coleiras, roupas, colares, bandanas e muitos outros acessórios que estampam a banca de Monica. Para não descaracterizar o ponto, livros e revistas também estão presentes em uma parte da loja. Na opinião de Monica, dentre tantos outros benefícios, a banca de jornal é um ponto de venda que facilita a vida de quem vive naquele bairro. Além disso, a empresária acredita que as bancas carregam um espírito de coletividade diferente de outros pontos de venda e acabam por gerar movimento na rua.

Na mesma época em que Monica dava vida à My Boo, os sócios Leeward Wang e Roberto Meirelles tiveram a mesma inspiração para a Kiro, primeira loja da fábrica de switchel - bebida que combina o doce do mel, a acidez do vinagre de maçã e o picante do gengibre. A pequena venda instalada em uma banca de jornal reformada e transformada na Banca do Kiro fica na Rua Cônego Eugênio Leite, no bairro de Pinheiros. Ali se encontram as tradicionais garrafinhas da bebida, que também é vendida por litro direto da torneira para o cliente levar para casa em growlers, os garrafões. Ou para quem preferir, também é possível pedir um copo para beber por ali mesmo. A banca em questão tem uma área de oito metros quadrados e esteve nas mãos de um mesmo casal por 27 anos. As prateleiras que guardaram jornais e revistas por décadas receberam uma pintura rosa choque e estão recheadas de livros. São publicações sobre diferentes temas, entre eles o universo da alimentação e seus ingredientes, mas também política e sustentabilidade. Boa parte são de editoras independentes. Os títulos mudam a cada estação do ano, sempre sob a curadoria da Inesplorato, uma empresa especializada em curadoria de conhecimento. Acompanhando a movimentação desse mercado, imobiliárias trabalham com a venda e locação de imóveis e também bancas de jornal, entendendo que com o passar dos anos, as bancas passarão a ser espaços bem disputados pelo varejo em grandes centros urbanos. É possível adquirir uma banca por valores que variam de R$ 2 mil até R$ 100 mil. Mas para quem quer comprar, uma banca nova sai, em média, por R$ 20 mil. A banca deve ter, no mínimo, quatro metros quadrados e, no máximo 15 metros quadrados, e ocupar até metade de uma calçada, desde que o espaço tenha três metros de largura.

A BANCA DE ANTIGAMENTE

No Brasil, a história das bancas de jornal tem origem italiana, sendo que as primeiras fixas datam do início do século 20. Acredita-se que o nome “banca” vem do nome do primeiro jornaleiro a montar um ponto físico de venda de jornais, no Rio de Janeiro, o imigrante italiano Carmine Labanca, que se instalou no Centro da cidade. Na época, o ponto de Carmine consistia em tábuas sustentadas por caixotes onde os jornais eram vendidos. Na década de 1910, essas bancas rústicas tornaram-se pequenos barracos de madeira e depois começaram a ser substituídas pelas de metal. Em São Paulo, o pioneirismo nas bancas fica com Salvador Neves, imigrante português que, por 50 anos, foi responsável pela tradicional Banca Estadão. Até 1998, banca de jornal só podia vender jornal, revista e ficha de telefone. No início dos anos 2000, com a popularização da internet e o enfraquecimento dos jornais impressos, as bancas passaram a apostar em produtos mais diversificados. A alteração mais significativa veio nos anos 2000, com autorização para comercialização de produtos como CDs, alimentos de até 30 gramas e pequenos itens. Na época, jornais e revistas deveriam ocupar 60% do estoque de vendas. De lá para cá, as regras municipais mudaram e a cada atualização fica determinado que se mantenha uma certa porcentagem de venda editorial. Ou seja, basicamente, tudo tem venda permitida, desde que os jornais e as revistas não sumam das prateleiras e expositores. Estima-se que a cidade de São Paulo tenha pouco mais de 2 mil bancas. Regiões como a avenida Paulista, Centro e Barra Funda abrigam um maior número, que foi reduzido durante a pandemia, quando cerca de 260 delas deixaram de existir.

PROJETO PARA UMA NOVA BANCA

Há três anos, o projeto "A Gente Banca”, do Santander, jogou luz sobre o assunto ao oferecer uma linha de microcrédito para reforma e diversificação de receita das bancas. Na época, foram desenvolvidos cinco projetos em Curitiba pelo Estúdio Pantarolli Miranda, comandado pelo arquiteto Zeh Pantarolli e pelo designer Diego Miranda Leite. Esses projetos de estreia tinham a missão de inspirar modelos que podem ser replicados em qualquer capital brasileira. Além de atender as necessidades de um projeto comercial visualmente atraente, o objetivo era trazer certa padronização de materiais e sua viabilização financeira. Assim como São Paulo, a cidade de Curitiba já tem uma lei municipal aprovada que prevê a atuação ampliada desses negócios. As transformações das bancas possibilitam que serviços, como floricultura, manicure, chaveiro, costureira e manutenção de celular se adequem à instalação. O objetivo da campanha do Santander, é construir um modelo não de mera salvação ou auxílio às bancas, mas uma equação financeiramente sustentável para ambas as partes no longo prazo.

Fonte: Diário do Comércio

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